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Como estamos cuidando dos nossos meninos? (parte 2) |
Onde estão nossos meninos? Com quem eles conversam, presencial ou virtualmente? Quem são seus amigos? Quais sentimentos são despertados neles quando estão em casa, na escola ou convivendo em sociedade? Os tempos atuais exigem que façamos com frequência essas perguntas tão importantes para os nossos meninos. Por meio de um bate-papo tranquilo, com escuta ativa e sem prejulgamentos, devemos criar um canal de comunicação sempre aberto e sincero.
Foi-se o tempo em que os conhecidos se resumiam aos vizinhos e colegas da pequena escola do bairro. Hoje, não importa se a cidade tem 4 mil ou 400 mil habitantes — o mundo virtual abriu uma janela gigantesca de conexões, muitas delas perigosas. Ser omisso nesse sentido é, sem exagero, comparável a deixar nossos filhos com desconhecidos numa rua deserta de um bairro violento de uma grande cidade. E é isso: a presença física dos nossos meninos em casa já não garante que estejam crescendo com segurança.
Naturalmente, os meninos tendem a se comunicar menos. Não é comum que procurem, mesmo pessoas de confiança, para desabafar, conversar ou expressar o que sentem. Esse comportamento pode ter efeitos bastante nocivos, pois meninos que não se sentem ouvidos, acolhidos ou compreendidos costumam buscar refúgio em espaços onde possam se expressar sem julgamento — e a internet se torna um campo aberto para isso. Quando seu uso é excessivo ou ocorre sem supervisão, compromete o desenvolvimento emocional, as habilidades sociais, o rendimento escolar e pode desencadear comportamentos inadequados ou violentos. Uma criança ou adolescente vulnerável na internet pode facilmente se tornar vítima ou instrumento nas mãos de criminosos anônimos. Infelizmente, quando se trata de violência, os meninos ainda figuram entre as maiores vítimas.
Todos esses aspectos têm se tornado questões recorrentes na clínica psicológica. Muitas vezes, por trás desses comportamentos, estão sentimentos de inadequação, solidão ou dificuldades de socialização. A internet — especialmente jogos online e redes sociais — oferece uma falsa sensação de pertencimento e controle, funcionando como fuga da realidade. Estudos revelam que meninos, mais do que meninas, tendem a se isolar no universo digital, tornando-se mais expostos a conteúdos violentos, misóginos e até a aliciadores virtuais. Psicologicamente, esse excesso pode estar associado à depressão, ansiedade, baixa autoestima e diversos transtornos. Por isso, é fundamental que pais, educadores e cuidadores estejam atentos aos sinais.
É preciso compreender que limites claros, estabelecidos com afeto, segurança e bons exemplos, fazem toda a diferença. Os meninos precisam de carinho, amor, proximidade e diálogo respeitoso tanto quanto as meninas. Desconstruir a ideia de que eles devem ser tratados com mais dureza ou distanciamento para se tornarem homens fortes é tão prejudicial quanto ignorar onde estão inseridos ou quais escolhas estão fazendo. Até certa idade, eles precisam de supervisão e orientação constantes. Entrar nos espaços que ocupam não é invasão, é cuidado: limite imposto com amor e respeito.
Educar dá trabalho, exige tempo e muita disponibilidade. A presença afetiva é o primeiro passo para promover vínculo e saúde mental. Meninos saudáveis protegem a si mesmos e também à sociedade como um todo.
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