GERAL
A qualidade (de) vida
   
Hoje ganha-se a vida, mas será que se vive a vida?

Por Franciane Schuster, psicóloga
06/08/2024 07h21

A saúde é um direito fundamental. Ela é amplamente reconhecida como o maior e o melhor recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal. Como se isto não bastasse, é ainda assim considerada como uma das mais importantes dimensões da qualidade de vida.

Porém, existe um grande paradoxo que nos coloca nos tempos que correm. De alguma forma, hoje parecemos ter edifícios mais altos, mas 'pavios' mais curtos. Temos estradas mais largas, mas pontos de vista mais estreitos. Queremos mais mas temos menos. Compramos mais mas desfrutamos menos. Casas maiores, mas famílias menores. Temos mais objetos mas menos satisfação. A informação hoje é maior mas nem sempre o conhecimento é melhor. Julgamos mais mas refletimos menos. Hoje fala-se demais mas escuta-se de menos. Todos parecem saber o preço de tudo, mas são poucos os que conhecem o valor das coisas.

Hoje ganha-se a vida, mas será que se vive a vida? Na maior parte do tempo das suas vidas, a maioria das pessoas é saudável. Isto significa que a maioria das pessoas não necessita de hospitais ou procedimentos médicos complexos, diagnósticos ou terapêuticas.

Mas durante toda a vida, todas as pessoas necessitam de água e ar puros, de um ambiente saudável, alimentação adequada, e enquadramentos social, econômico e cultural favoráveis, necessários para a prevenção de problemas específicos de saúde, assim como para obtenção de educação e informação. Isto quer dizer que os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos podem tanto favorecer, como prejudicar a saúde.

E é importante que as pessoas cada vez mais tenham noção disto.

Para além destes elementos chamados estruturais, que dependem apenas parcialmente da decisão e da ação dos indivíduos, a saúde também é decorrente dos chamados fatores comportamentais, da estreita responsabilidade de cada um. Isto é, as pessoas desenvolvem padrões alimentares, de atividade física, de maior ou menor stress na vida cotidiana e no trabalho, uso de drogas legais (como tabaco e bebidas) e ilícitas, entre outros, que também têm grande influência sobre a saúde.

E, de novo, voltamos a algumas das grandes contradições dos tempos modernos. Hoje temos mais vias de comunicação, mas comunicamos menos. Planejamos muito mas realizamos pouco. Corremos contra o tempo, mas não aprendemos a esperar. Percebemos a quantidade, mas nem sempre a qualidade.

Estes são tempos de refeições demasiadamente rápidas e digerimos lentamente muito do que nos acontece à volta. Se cada pessoa se preocupar em desenvolver um padrão comportamental favorável à sua saúde e lutar para que as condições pessoais, sociais e econômicas sejam favoráveis à qualidade de vida e à saúde de todos, certamente estará dando uma poderosa contribuição para que tenhamos uma população mais saudável, com uma vida mais longa e prazerosa. Vemos por isso que, de certa forma, a qualidade de vida contém a saúde, mas a saúde nem sempre contém a qualidade de vida.

Dito de outra forma, quem tem saúde, não implica que tenha qualidade de vida, mas quem tem qualidade de vida, tem saúde.

Então, se você procura saúde e qualidade de vida, de forma a conseguir sair de uma rotina sedentária e de uma alimentação desvantajosa, o primeiro passo é a mudança de hábitos. 

Organize os seus horários, procure os profissionais capacitados, dentro das respectivas áreas e mude o seu estilo de vida. Mas faça estas mudanças com o acompanhamento correto, e sobretudo com a consciência de que os investimentos que possa fazer no presente podem evitar gastos futuros com hospitais, exames e remédios. Analise as melhores opções para si e verifique até onde está disposto a ir para – no fundo dos fundos – fazer uma coisa simples mas muito complicada ao mesmo tempo: acrescentar vida aos seus dias e não apenas dias à sua vida. 

 

Por Sara Ferreira

 


   

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