GERAL |
Onde nasce a solidariedade? |
Eventos catastróficos geram dentro de cada um de nós repercussões distintas |
De tempos em tempos parece que o mundo se rebela e nos sacode, nos tira do eixo e nos convida a fazer um caminho diferente daquele com o qual já estávamos acostumados a percorrer. Eventos catastróficos, como esse que estamos vivendo no RS, por exemplo, geram dentro de cada um de nós repercussões distintas, mobiliza sentimentos e emoções diferentes e como consequência, as decisões, as reações e atitudes de cada um também serão diferentes.
Fato é que, diante de tal calamidade, saltam aos olhos de quem percebe as grandezas do mundo, atitudes dignas de registro, mas que no anonimato exercem um papel fundamental a serviço do bem estar da sociedade. Naqueles momentos em que o terreno se apresenta denso, rígido e repleto de dor, surgem pessoas capazes de plantar a semente da esperança, pois carregam em si amor suficiente para dividir com aqueles que devido as circunstancias não conseguem visualizar um pontinho de luz. Esse amor ilumina a vida do outro, traz alento e força para perseverar e enfrentar as dificuldades do caminho.
Mas como explicar essa capacidade tão nobre e necessária da solidariedade?
Sabe-se que desde os primórdios da humanidade, existe uma predisposição em agir em prol de um grupo como uma questão de sobrevivência e preservação da espécie. Já carregávamos dentro de nós instintivamente um mecanismo acionado quando necessário para lutar e defender nosso espaço e o grupo do qual pertencíamos. Com a evolução da humanidade houve um longo processo de educação afetiva e passamos a descentralizar nossa atenção. As pessoas realmente solidárias ou generosas, desenvolvem uma consciência de dever para com o próximo, seja ele quem for, através da empatia e da compaixão. Normalmente são pessoas que aprenderam amar a si mesmas e com a essência do amor conseguem direcioná-lo para fora e perceber o outro e suas necessidades.
Várias são as influências sobre como, de maneira desinteressada e altruísta, desenvolvemos a capacidade de enxergar o mundo do outro e através da responsabilidade direcionar nossas ações.
Os valores morais e éticos da família que crescemos e da sociedade que fizemos parte estão diretamente ligadas ao fato de nos tornarmos seres mais solidários e generosos. Ou seja, se vemos, ouvimos e estamos ligados a pessoas que agem em prol do bem comum, provavelmente perceberemos e aprenderemos o quão importante é para a sociedade agir e pensar no coletivo. Quando temos como exemplo na nossa comunidade, na entidade religiosa a qual pertencemos ou no nosso grupo familiar, atos de generosidade, mais estímulos teremos a cooperar para que as carências e as dores do próximo sejam amenizadas ou solucionadas.
Além disso, vários estudos apontam que, mesmo sem essa pretensão, ao realizarmos ações de voluntariado e ajuda humanitária no exercício da nossa solidariedade, recebemos inúmeros benefícios que vão desde de uma sensação de bem estar emocional e psicológico, emoções positivas de gratidão e satisfação, fortalecimento de vínculos e conexões sociais, até benefícios para nossa saúde mental. Quando agimos com amor e generosidade, tem menos chance de desenvolver transtornos mentais como ansiedade e depressão, por exemplo. Soma-se a isso a diminuição do nível de estresse e uma melhor qualidade de vida.
Gostaria de terminar o artigo, com esse pequeno trecho de um poema escrito por Khalil Gibran, dentro da obra “O Profeta” chamado: A Dádiva da Generosidade
“Há os que dão pouco do muito que têm — e fazem-no em troca de reconhecimento e seu desejo oculto desmerece suas dádivas. E há os que pouco têm e tudo dão. São aqueles que acreditam na vida e na sua generosidade, e seus alforjes nunca estão vazios. Há os que dão de bom grado, e essa alegria é sua re-compensa. E há os que dão com pena, e essa pena é seu batismo. E há os que dão e não sentem pena ao fazê-lo, tampouco buscam alegria, ou virtude; Dão como a murta do vale exala seu aroma no ar. Através de suas mãos, Deus fala; e, em seus olhos, Ele sorri para o mundo.”