CIDADES
Separação, os desafios da decisão e a missão de se reencontrar
   
A separação inevitavelmente muda a rotina dos parceiros

Por Franciane Schuster, psicóloga
20/11/2023 16h36

A separação é uma experiência bem dolorosa que pode desencadear um estresse emocional por um longo tempo. Embora a vivência a dois geralmente já esteja desgastada, a dor de se separar assemelha-se a um luto, pois representa uma perda concreta.

É interessante entender que o término de um relacionamento não se limita a perda do parceiro/a. Ele envolve também a desconstrução de sonhos e planos que não se realizaram. Assim, toda essa carga emocional pode se tornar extremamente dolorosa, merecendo atenção e cuidados especiais.

Em meio a esse rompimento, a pessoa se vê lançada em um território desconhecido e, certamente, a pergunta que paira pela mente é: “E agora?”. As reações ao estresse são inevitáveis diante da quebra de uma rotina, a incerteza do futuro, a divisão dos bens, o distanciamento dos familiares, dentre outras situações com as quais será imprescindível aprender a lidar.

Apesar de ser um momento delicado, é importante lembrar que é possível atravessar o divórcio com um renovado senso de esperança e otimismo. (Embora isso pareça impossível inicialmente).

Como as pessoas vivenciam a separação?

A separação significa o fim de um relacionamento íntimo com o parceiro/a, e nem sempre este rompimento é realizado de forma tranquila e pacífica. Em geral, a maioria das pessoas vivencia essa fase de forma turbulenta, com diversas dificuldades. Aceitar que a relação acabou pode ser muito dolorido e gerar sentimentos conflitantes.

Então, por conta disso, muitas pessoas buscam orientação de um psicólogo, a fim de saber como lidar com as emoções que emergiram com o fim do relacionamento, bem como superar essa fase.

O cônjuge que pede a separação

Muitos fatores podem levar ao desejo da separação, o sentimento de desgaste emocional e mental pode estar entre eles. Apesar disso, não se separa somente quem tem problemas óbvios. Muitas vezes o casal aparentemente funciona bem, mas problemas escondidos na falta de diálogo e abertura, podem ser determinantes.

Optar pela separação não é um passo simples, ninguém decide da noite para o dia deixar o casamento e a dor é significativa tanto para quem decide como para o outro lado, embora sejam dores diferentes. Geralmente, a pessoa que pede a separação já vem apresentando queixas (compartilhadas ou não) sobre o funcionamento do relacionamento.

O cônjuge que não queria se separar

A notícia do pedido de separação por parte do parceiro/a pode causar surpresa e desencadear muitos medos.

Consequentemente, pode haver a negação e oposição em relação a decisão do cônjuge. Algumas vezes ainda existe sentimento e é muito difícil aceitar que seja diferente para o outro.

Outras vezes vulnerabilidades emocionais podem dificultar a compreensão realista de que a relação já não funciona mais como antes. Como por exemplo: O medo da mudança, a baixa autoestima, insegurança, a sensação de fracasso, sentir-se despreparado/a para encarar a vida sozinho (a).

Sempre cabe avaliar quais são os motivos reais para querer se manter em uma relação.

Separação e autoestima

Toda separação afeta o estado emocional de ambos os cônjuges, e uma das áreas mais atingidas é a autoestima.

Os sentimentos de rejeição, a dificuldade em seguir em frente, a mágoa, o choque, a traição (quando existe), a raiva, a decepção e todas as sensações desagradáveis podem desestruturar o autoconceito de alguém e mexer com seu amor próprio.

Sentimentos de apatia, perda do sentido da vida e pensar que não conseguirá retomar o caminho são grandes sabotadores. É muito importante recuperar o equilíbrio e ajustar a vida para uma nova perspectiva.

Fases do luto da separação

As fases do luto da separação possuem alguns pontos em comum, embora cada pessoa lide de forma diferente com essa situação. Para algumas pessoas esse momento de encontro com a dor virá, e é preciso entender como esse processo se desenvolve e como os sentimentos são experimentados durante esse luto. Eles não ocorrem na ordem exata.

Há, pelo menos, 7 fases de luto durante e depois da separação:

1 – Negação: Você não consegue acreditar que a separação está realmente acontecendo;

2 – Dor e medo: Você sente todo o tipo de dor emocional e muitos medos surgem;

3 – Raiva: É difícil acreditar que depois de tanto investimento a relação chegou ao fim;

4 – Negociação: Pode ser que você ou o/a parceiro/a tentem reatar a relação e, nessa fase, pode haver alguma promessa de mudança;

5 – Culpa: É possível que você diga a si mesmo que a culpa do término é sua. No entanto, não deixe que esses sentimentos de culpa o aprisione;

6 – Tristeza ou Depressão: É o momento que entramos em contato com a tristeza de todas as perdas envolvidas. Importante cuidar para não evoluir para um Episódio Depressivo. Essa é uma fase bem delicada e que precisará de ajuda emocional e apoio social;

7 – Aceitação: E, então, chega a fase de aceitação. Neste estágio você aceita a realidade, entende que realmente a relação chegou ao fim e nada vai mudar isso. Nesta etapa, você consegue desenvolver recursos internos que o ajudam a superar o término e dar início a uma nova fase da vida.

A mudança na rotina

A separação inevitavelmente muda a rotina dos parceiros, em especial quando envolve os filhos.

Inicialmente essa mudança na rotina pode ser perturbadora, afinal, você estava acostumado/a com certas atividades que hoje não farão mais parte do seu dia a dia. Porém, com o tempo se adaptará e perceberá que embora as coisas sejam diferentes, você pode fazer grandes progressos em sua vida, assim como enfrentar novos desafios.

Por fim, vale destacar que você precisa estruturar sua nova rotina, até porque se tiver crianças, elas precisarão de rotinas previsíveis, consistentes e regulares. Portanto, mantenha-se firme e constante.

Como superar a dor da separação

A dor da separação pode ser superada.  E dependerá significativamente da maneira como será encarada.

Tenha em mente que o momento mais sombrio é o início da separação, quando você sente seus planos e sonhos desmoronando. Neste momento, é importante acolher o sofrimento legítimo trazido pelo fim da relação. Fingir que está tudo bem não irá ajudar. Parte da recuperação é passar pela tristeza, sem ignorá-la e nem fazer morada nela.

Reações como essas diminuirão com o tempo

Reserve um momento para si mesmo. Seja realista e paciente, afinal ninguém supera uma dor da noite para o dia. Também não precisa se cobrar para ser forte o tempo todo. Busque melhorar seu cotidiano, criando situações que lhe ajudem a se reinventar, se reagrupar e se reenergizar. Compartilhe os seus sentimentos com pessoas de confiança. Não passe por essa situação se isolando.

Não lute contra os seus sentimentos. Pode ser que experimente altos e baixos e tenha emoções conflitantes. Apenas compreenda este processo, aceite-os e permita-se vivencia-los.

Quando procurar um psicólogo e como ele pode ajudar?

A ajuda psicológica é de grande valia tanto nos conflitos conjugais, quanto na reestruturação emocional no processo de separação. Portanto, as pessoas podem se beneficiar individualmente da terapia ou conjuntamente com o/a parceiro/a quando ainda há espaço para isso.

Quando o casal opta pela separação, a terapia será benéfica das seguintes formas:

Elaborar o Fim do Relacionamento. Auxilia a evitar problemas de saúde mental, visto que a separação ter um efeito negativo, de acordo com este estudo. Ensinar habilidades de enfrentamento para a nova vida. A se sentir mais encorajado e capacitado a lidar com os vários tipos de sentimentos e dores. A encontrar um lugar seguro para compartilhar os seus pensamentos e o que sente. Gerenciamento Emocional.  Entender seus próprios comportamentos e trabalhar em mudança de conduta quando desejado.

É possível ter uma vida equilibrada e estável emocionalmente após terminar um relacionamento. O importante encontrarmos formas de nos fortalecer emocionalmente para organizar as emoções, olhar para si e se reencontrar.

Por Fabíola Luciano.


   

  

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