GERAL |
Futuro das safras apavoram produtores familiares e indígenas no RS |
Municípios perderam mais de 90 por cento das lavouras de verduras |
Prejuízos superiores a 90% nas lavouras de verduras e tubérculos desalentam agricultores familiares e indígenas do noroeste do Rio Grande do Sul. Após semanas com fortes chuvas e registros de granizo desde a última semana, os relatos revelam preocupação com a ausência de renda para fechar o ano e a falta de alimentos para 2024.
"Com excesso de água de chuva no solo, a mandioca apodreceu e levou com ela todo o processo de cultivo iniciado em 2022. Perdemos todas as verduras, que precisarão ser replantadas, mas não sabemos quando", afirmou à reportagem o agricultor Valmor Machado.
Para ele, o próximo ano será mais comprometedor: "Estamos em novembro e ainda não temos condição de plantar a safra 2023/24, que tinha de ter começado em agosto", acrescentou.
Machado, que é coordenador da Cooperativa da Agricultura Familiar do Noroeste Gaúcho (Coopfamiliar) - entidade formada por produtores familiares e povos indígenas - disse que as duas safras estão condenadas, pesando no sustento da comunidade e no fornecimento de alimentos às escolas municipais.
Isso porque a cooperativa, que fica em Guarita, uma das maiores aldeias indígenas do Rio Grande do Sul, é uma das principais fornecedoras de alimento ao Programa Nacional de Alimentação Escolas (PNAE) no Estado.
Entre os alimentos orgânicos cultivados na região estão a mandioca, batata-doce, feijão, arroz, trigo e milho, todos afetados pelas intensas precipitações dos últimos 30 dias. Como os agricultores não têm máquinas e equipamentos de preparo de solo, as consequências são imprevisíveis.
"Só no noroeste gaúcho são 2.800 crianças nas salas de aula. A grande maioria tem na alimentação escolar a única refeição diária, e os alunos podem ficar sem alimento devido ao prejuízo das lavouras", lamentou.
Machado defende políticas públicas para solucionar o problema de armazenagem, especialmente para os agricultores familiares, que dependem da infraestrutura estatal para estocar parte da produção.
Agroindústrias podem parar?
Outro possível prejuízo é para o processamento de alimentos pelas agroindústrias da região. Segundo Machado, faltará matéria-prima no segmento, como o milho, cuja colheita foi adiada pelas chuvas, e produtos à base do cereal, como canjica e farinha de milho, estão em xeque.
"Agroindústrias que trabalham com mandioca, batata-doce, processamento de vegetais, como moranga e abóbora, estão condenadas à falta de matéria-prima nas safras de 2022/23 e 2023/24", afirmou.
As comunidades indígenas, acrescentou, são grandes fornecedoras desses alimentos, tanto para subsistência, como para abastecimento de escolas da região.
Região afetada por granizo
Pedras de granizo maiores que ovos de galinha prejudicaram 11 comunidades do município de Vista Gaúcha (RS). No total, 238 propriedades foram atingidas e mais de 4.160 telhas quebradas. Entre as estruturas, aviários, granjas de suínos e galpões com perdas inestimáveis.
O cenário foi detalhado pelo vice-prefeito e secretário de Agropecuária e Meio Ambiente da cidade, André Junior Danette. "As chuvaradas entram na bacia leiteira, nas pastagens, em diversas culturas, prejudicando, principalmente, a colheita do trigo, que não foi fácil", afirmou à reportagem.
Ele estimou que 30% das lavouras de milho, que iriam para silagem, tombaram ou se perderam completamente devido ao granizo. Embora não consiga estimar as perdas econômicas na agropecuária, o vice-prefeito informou que o município gastou nos últimos três dias R$ 335 mil em telha e lona para refazer as propriedades afetadas.
As pastagens da região também seguem encharcadas, dificultando o manejo dos animais no pasto, afirmou Tarcísio Samborski, agrônomo e professor do Instituto Federal Farroupilha (IFF), em Santo Augusto, também no noroeste gaúcho.
"Os maiores problemas ficaram com quem perdeu animais. Outro vendaval arrebentou os chiqueiros de suínos, por exemplo, na cidade de Sede Nova, e não há como estimar se os criadores conseguem reverter o ocorrido", alertou.
Samborski estimou que o investimento em infraestrutura para abrigar rebanhos pode ser, pelo menos, três vezes superior ao valor da propriedade. Com tamanho prejuízo, produtores podem desistir de reverter a situação.
Fonte: Globo Rural.